sábado, 28 de agosto de 2010

Paixão imaginária [...]


Ele encontrava-se ao lado dela a dormir, tal e qual como uma criança faz no fim de um dia cansativo devido a tanta brincadeira. Ele tinha uma beleza rara, pode-se dizer até exótica.. A sua pele branca contrastava com o seu cabelo castanho escuro que, por sua vez, também contrastava com os seus, enormes, olhos verdes azulados. Mas não era isso que ela via nele. Ela apreciava a sua timidez como um pintor aprecia uma obra-prima. Ela escutava-o com muita atenção como um aluno interessado escuta um professor, um mestre. Ela temia-o como as pessoas temem os ladrões. Ela amava-o como faziam os adolescentes. Ela suspirava por ele como uma mulher suspira por um homem. Ela sonhava com ele todas as noites como uma criança sonha em ser astronauta ou jogador de futebol. Ela desejava tocar no corpo dele como um lunático deseja tocar o céu .. Mas, apesar de tudo, ela sabia que ele não existia.. Ele era quase imaginário. Porém, era com ele que ela, antes de dormir, falava e desabafava sobre o seu dia. Era com ele, que ela, dormia todas as noites.. Contudo, havia um preço a pagar, ela não podia tocar quem ela mais amava. Se ela lhe tocasse ele dissipar-se-ia. E, ela assim aceitou, ficar com ele sem lhe poder tocar [...]
O tempo passava e o amor dela aumentava. Ela já não aguentava mais tê-lo a seu lado sem o poder tocar, sem o poder sentir. Um dia quando ele chegou do trabalho ela correu em direcção a ele, abraçou-o e beijou-o. Ele retribuiu-lhe este último beijo com a mesma ternura com que ela lhe dera o primeiro. Ela desceu os seus lábios até ao pescoço deste belo ser e começou a chorar. Chorou e chorou, até que conseguiu proferir: "Não me deixes, por favor, nunca, nunca mais...", proferiu tais palavras com tamanho amor e ódio que os seus braços se concentraram no peito dele e o asfixiaram. O peso morto dele caiu sobre o seu corpo frio. Estes dois belissimos seres encontravam-se no chão. Aquela mulher tinha acabado de matar aquilo pelo qual ela vivia. Sem saber o que fazer, ela adormeceu e, nunca mais acordou...
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